Transitar entre times de tecnologia e negócios, definir prioridades alinhadas com o rumo que a organização definiu, alinhar expectativas e garantir que tudo isso está claro a os todos envolvidos exige do gerente de produtos digitais diversas soft skills em seu dia a dia. Confira 6 habilidades que identifiquei, a partir de minha experiência prática, a serem sempre exercitadas por quem atua no papel de Product Manager.
Esse conteúdo foi apresentado em palestra na Semana de Tecnologia aos alunos do curso de graduação “Análise e Desenvolvimento de Sistemas” da Faculdade de Tecnologia de Sorocaba em outubro/2024.
E também foi apresentado no evento da comunidade SOROCABACSS na empresa de tecnologia Eduzz, também em Sorocaba/SP:
O papel Product Manager
Antes de introduzir as habilidades para profissionais que gerenciam produtos digitais, segue definição extraída do artigo “Gerente de Produto: a função e as práticas recomendadas para iniciantes“, do site da Atlassian, empresa que possui ferramentas de apoio para desenvolvimento de software.
“O gerente de produtos é a pessoa que identifica as necessidades do cliente e os objetivos de negócios mais amplos que um produto ou uma função vão suprir, articula o que é sucesso para um produto e reúne uma equipe para transformar a sua visão em realidade.”
Lembrando:
- Product Owner (PO) é um papel da metodologia ágil Scrum que sempre é questionado sobre ser ou não similar ao Product Manager (PM). Por isso, tanto PO quanto PM são mencionados neste artigo. Conto mais sobre isso no artigo “Equipes ágeis, Scrum e os papéis Product Owner e Product Manager“.
- Atuar como Product Manager não é sinônimo de cargo de “gerente” nas empresas, por isso é utilizado o termo papel Product Manager, e não cargo.
6 Habilidades ao Gerenciar Produtos Digitais
1ª Soft-Skill: COMUNICAÇÃO
O problema maior é a falta de comunicação. Comunicação ausente ou não clara = prejuízos ao negócio: nosso trabalho precisa contribuir com resultado financeiro, inclusive a área de tecnologia – afinal, tecnologia é meio, e não fim.
Exemplos de consequências causadas pela falta de comunicação clara:
- Priorização errada: de nada adianta fazer certo a coisa errada!
- Frustração e quebra de confiança: stakeholders têm expectativas em determinas entregas do produto – não comunicar imprevistos que afetam em prazos ou na em entrega si, causam frustrações, prazos inicialmente alinhados não são atendidos e a ausência de follow-up podem quebrar a confiança e credibilidade do Product Manager diante da área de negócio.
- Zona de conforto: alguém sabe como você agrega ao negócio? O quanto seu trabalho é essencial? Saber comunicar suas entregas de valor ao negócio podem lhe forçar a sair da bolha tech. Ou seja: ficar apenas na zona de conforto cotidiana nem sempre é a melhor solução para expor o seu valor para a cia.
Exemplos de benefícios da comunicação como um hábito:
- Sejam interessados, com quem se pode contar: especialmente para quem atua com home-office, estar presente é essencial para não contribuir com o descrédito do trabalho remoto. Participe das reuniões, responda mensagens, e-mails, abra a câmera nas reuniões com stakeholders. Não suma, esteja disponível. E furar a bolha em que se encontra demonstra seu valor nas entregas para as demais áreas.
- Fale, documente. E repita, se necessário: como já diziam os ditados… “O combinado não sai caro.“; “O óbvio precisa ser dito.” Utilize de chat, user story, e-mail, planilha de entregas, PPT, reunião…: garanta que a mensagem chegará em quem precisa – e no tempo certo. Repetir a mensagem pode ajudar a fixar os tópicos que não podem passar despercebidos. Com o trabalho multitarefa que a Internet habilita, é preciso garantir que a atenção dada à sua mensagem não esteja dividida pelo receptor.
- Atenção! Adeque a mensagem ao público: quanto maior o cargo, menor o tempo. Em agendas com gestores de posições maiores, foque em mensagem objetiva e direta ao ponto, sem micro detalhes, foco no que interessa (provavelmente alguma métrica, KPI…). Já pensou quanto custa o valor da hora de pessoas de posições mais altas juntos na mesma reunião?
2ª Soft-Skill: ADAPTABILIDADE
- Escassez de recursos: nem sempre haverá verba para tudo que queremos fazer, gastos maiores precisam justificar ROI (retorno sobre o investimento) e, no caso de uma negativa de budget, reclamar sem qualquer tipo de ação não é uma opção. Resiliência é essencial para recalcular a rota: começar pequeno gastando pouco para validações incrementais das ideias (errar rápido) se aplica neste tópico. Quem nunca precisou fazer mais com menos? Esses momentos também ajudam a estimular a criatividade.
- Top-Down: recebeu uma ordem para o produto digital que você atua da qual você discorda? Procure entender o contexto e razões por trás, afinal, você não é CEO do produto e não tem a visão do todo ou expertise necessária para ir contra. Procurar entender e se adaptar faz parte.
- Reclamar por reclamar nunca é solução ninguém gosta de conviver com quem só reclama. Lembrando que argumentar com endosso é diferente de reclamar apenas pelo ato de reclamar. A convivência fica melhor com resiliência, flexibilidade e aprendendo a jogar junto dentro das circunstâncias atuais em que estivermos. Estamos sempre aprendendo.
3ª Soft-Skill: PENSAMENTO CRÍTICO
Ideias sempre irão surgir para aperfeiçoar um produto. Mas… será que ela realmente vale a pena agora? É o momento oportuno conforme outras demandas do seu backlog e objetivos da cia?
Antes de tomar qualquer decisão sobre o que vai (e não vai) ser feito, é necessário tempo e calma para analisar o contexto completo e, inclusive, possíveis ações que já foram realizadas anteriormente e quais resultados coletados. A seguir, algumas dicas para esse levantamento inicial com stakeholders.
- Qual é o problema a ser resolvido? Quando outras áreas trazem alguma demanda, solicitação de desenvolvimento, é comum vir uma proposta de solução junto. Mas qual é a dor que precisamos resolver? Antes de discutir soluções, requer entender qual é o problema e qual é o melhor caminho de fato (após avaliar se realmente era uma dor).
- Quanto representa de $$$ (para mais ou para menos) para a cia? Uma nova entrega de valor surge para ser implementada no produto… mas qual a estimativa de retorno financeiro ao negócio OU o quanto negócio irá deixar de gastar? Em resumo: está de acordo com os objetivos atuais da cia?
- Qual impacto pro cliente? Afeta a maioria? Especialmente em caso de possível bug ou algum ruído com cliente que pode ter ocorrido, é crucial ter clareza se o impacto foi pontual ou se tem prejudicado uma parte considerável de usuários e consumidores.
- Começou quando e ocorre com qual frequência? Em complemento ao tópico anterior, questionar quando o problema foi percebido e a quantidade de vezes que ocorre ajuda a compreender o nível de urgência de atuação. Um problema que começou há meses e foi identificado agora é realmente urgente? Qual a causalidade/correlação quando um problema iniciou no mesmo dia de um deploy?
- Tende a piorar com o tempo? Há situações que são controláveis no agora, mas e no futuro breve? Pode virar um caos aos times de Operações, SAC, satisfação do consumidor?
- Há uma alternativa paliativa? Se determinada entrega não for feita agora, há uma opção operacional paliativa para os times de negócio usarem ou tem total dependência de tecnologia?
- Há prazo regulatório, legislação? Há alguma lei que entrará em vigor que requer atuação imediata no produto para evitar multas?
- Tem influência de algum evento próximo? Algum evento importante está previsto em futuro breve que tem dependência da entrega a ser feita? Ex: Black Friday.
- Há evidências? Por fim, situações de problemas possuem evidências que endossam possível causa raiz, que ajudam a encontrar o problema de fato?
4ª Soft-Skill: NEGOCIAÇÃO
Aprender a dizer NÃO faz parte, porém requer um NÃO endossado, e não apenas com dados, mas também fatos e credibilidade.
- Credibilidade = confiança: requer TEMPO. Confiança se constrói, conquista conforme entregas, domínio dos processos, comunicação. Quando essa confiança é alcançada, e for necessário falar “não” ao stakeholder para alguma demanda por estar despriorizada no backlog (e por todos os pontos abordados no tópico 3 de Pensamento Crítico), é mais fácil de se chegar em um acordo. Principalmente se você souber negociar fatiamento da demanda através de entregas incrementais.
- Entregas incrementais: fatiar e atender o negócio com entregas constantes e incrementais faz parte da metodologia ágil. Você é capaz de atender o negócio de maneira mais ágil, mesmo que ainda não seja a entrega final completa, coletando feedback no decorrer para ajuste de rota, se necessário.
Confira o artigo: Metodologias Ágeis & Scrum
5ª Soft-Skill: ORGANIZAÇÃO
Demandas irão chegar de todos os lados!
E de áreas diferentes. Sem dados e evidências. Faltando contexto. Com urgências, prioridades e prazos diferentes… e às vezes desalinhadas com os objetivos e prioridades atuais da cia e sem agregar valor real ao negócio, seja por não focar em trazer retorno financeiro, reduzir custos ou ainda porque não será capaz de trazer retorno financeiro capaz de amortizar o custo de implementação.
sem organização => sem comunicação => sem pensamento crítico e negociação
Percebe como as habilidades são interligadas? Se você não se organizar com todas as demandas recebidas, e passarem despercebidas, a área demandante pode continuar com expectativas de que a solicitação feita será entregue.
Se você não mantiver a organização no seu dia a dia, não haverá comunicação, follow-up com stakeholder sobre a solicitação. Se for algo crítico, a causa da solicitação poderá ser agravada pelo tempo em que não houve atuação. Se não for algo urgente, você não terá realizado pensamento crítico com calma para negociar a entrega quando for cobrado.
6ª Soft-Skill: LIDERANÇA POR INFLUÊNCIA
Produtc Owner / Product Manager não é gestor dos desenvolvedores, nem da pessoa QA (Quality Assurance) e nem da pessoa Scrum Master/Agilista, mas é responsável por guiar a squad, trazer o norte para onde devemos chegar.
Por que a entrega de valor priorizada é importante? Por que agora? A partir de então, o fatiamento para as entregas incrementais é realizada junto ao time de desenvolvimento conforme possibilidades.
A liderança por influência significa inspirar o time para atingir as expectativas do negócio independente da posição hierárquica não ser superior aos membros da squad. Há uma relação de confiança entre PO/PM e os devs.
Conclusão
Espero que este artigo ajude Product Owners e Product Managers iniciantes sobre habilidades que, a partir de minha vivência prática, entendo como importantes. Lembrando que, às vezes, “descobrimos” o quanto algumas soft-skills são importantes passando por algumas “dores” no dia a dia, faz parte do processo de maturidade profissional.
Esse artigo foi 100% escrito por (minha) inteligência humana.